Essa foi a segunda entrevista que fiz com a canoísta brasileira Roberta Borsari, em 2006, quando eu trabalhava como repórter na revista Aventura&Ação (para ler a primeira entrevista, em 2005, clique aqui). Ela tinha acabado de voltar de Peniche, Portugal depois de participar da I Copa do Mundo de Kayaksurf. Para reprodução aqui, atualizei as informações em janeiro/2016.
Renata Borsari (Bebeta) não mora na beira do mar para que possa treinar mais frequentemente num ambiente mais real (com ondas, por exemplo) e outros desafios mais próximos do que enfrenta nas competições, trabalha o dia todo e só tem os fins de semana para esticar até o litoral de São Paulo. Ela não vive para o esporte que tanto curte e no qual está se profissionalizando cada vez mais, mas mesmo com todas as dificuldades, continua sua luta para deixar seu nome na história do kayaksurf mundial.
Na I Copa do Mundo em Portugal, entre dez competidoras ela terminou a copa (2006) em quarto lugar. Não bastando, foi premiada pela marca de maior prestígio no meio com um caiaque, a Mega Kayaks, feito especialmente para ela nas cores verde e amarela. De quebra, foi convidada para fazer parte da equipe do fabricante. Abaixo, ela conta como foi todo o evento e sua performance.
Amandina Morbeck: Qual a importância de participar da I Copa do Mundo de Kayaksurf?
Renata Borsari: Idealizada para que tenhamos mais provas internacionais nos anos que intercalam os os mundiais, participar dessa primeira prova faz a gente se sentir fazendo parte um pouquinho da história do kayaksurf, por isso os principais atletas da modalidade estavam presentes.
AM: Qual foi o momento mais emocionante para você? E o mais difícil?
RB: Emocionante foi descobrir que o maior fabricante de caiaques para surf me levou de presente um caiaque pintado nas cores do Brasil e, depois, minha estreia com ele na primeira bateria. A mais triste foi o problema que tive nas finais, quando usei uma saia emprestada, já que a minha era de tamanho diferente do novo caiaque, e ela se soltou. O caiaque encheu de água e não pude participar da etapa que poderia me levar a uma medalha.
AM: O que aconteceu de especial nesse evento?
RB: Essa foi minha melhor prova não só pela colocação, mas pelo meu amadurecimento, pelas minhas estratégias. Agora, sem dúvida que o convite para particpar da equipe da Mega Kayaks foi sensacional!
AM: Como tem sido o seu crescimento nas competições internacionais?
RB: Estou muito contente com a minha trajetória, pois desde que participei pela primeira vez do mundial na Irlanda, em 2003, e fiquei em décimo-terceiro lugar, ano a ana venho melhorando minhas colocações. No ano passado, o sétimo lugar no mundo já foi muito bom, pois me colocou entre as 10 melhores da modalidade e me trouxe bastante visibilidade. Mas ainda tenho muito o que evoluir.
AM: De que forma essa conquista se refletirá em sua carreira?
RB: Espero que ela contribua não só para a minha carreira, mas também para o kayaksurf brasileiro. Que o nosso país tenha mais visibilidade lá fora, que olhem para o potencial do nosso mercado, que possamos trazer etapas internacionais para cá.
AM: Como é competir sozinha, sem equipe de apoio ou torcida?
RB: Hoje em dia todo mundo [do kayaksurf] me conhece, tenho amizade com a maioria dos atletas. Acabei indo sozinha para as últimas provas das quais participei e os outros atletas realmente não acreditam, pois eles sempre estão em equipe grande, com um líder, canoístas mais velhos para dar conselhos e tal. Aí, eles olham para mim, que vim de um lugar que para ele é exótico, como se eu fosse de outro planeta. Mas todos me tratam bem.
AM: Que conselho você daria para aqueles que buscam se destacar no esporte?
RB: Que acreditem em si mesmos, acima de tudo. Tenho uma série de dificuldades para me dedicar ao meu esporte. Desde o fato de não morar numa cidade com praias até por não viver só para o esporte e ter uma rotina puxada de trabalho. Compenso tudo isso com uma dedicação enorme, muita disciplina e concentração e muito amor pelo que faço.
Desde a entrevista, Roberta conquistou muitos outros títulos e várias participações em eventos (confira aqui) e também tornou-se praticante de SUP (stand-up paddle), realizando várias aventuras nessa modalidade, como a volta da ilha Fernando de Noronha em 2014.
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Amandina Morbeck
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